Dinossauro de plástico é feito de dinossauro?

Por: Elias Augusto F. Soares

Dinossauros de brinquedo são feitos de plástico. Plástico é feito de petróleo e o petróleo vem de dinossauros. Isso significa que dinossauros de brinquedo são feitos de dinossauros de verdade? Na verdade não…

Esse material explica esse pensamento a origem dos dinossauros de plástico e evidencia o porque não é bem assim. Assista o vídeo a seguir e entenda mais sobre o assunto:

DINOSSAURO de plástico é feito de dinossauro? | UP – Universo Plástico (2020)

Diversos memes e páginas surgiram na internet com uma frase que dizia que:

“Se dinossauros de brinquedo são feitos de plástico, e o plástico vem do petróleo, e o petróleo é feito de restos de dinossauros, logo, dinossauros de plástico são feitos de dinossauro de verdade”.

Mas será mesmo que um dinossauro feito de plástico tem algum resquício de um dinossauro real? A questão é que essa linha de raciocínio é bem humorada e curiosa, mas infelizmente não está certa. Esse pensamento surge porque, fora a brincadeira, digamos que você… Bom, você foi enganado a vida toda.

Provavelmente te ensinaram duas coisas erradas. Uma delas é que o petróleo é feito de resto de dinossauros e a segunda é achar que todos os plásticos vêm do petróleo.

O petróleo

O petróleo é uma mistura líquida composta por diversos hidrocarbonetos e é encontrado em formações geológicas abaixo da superfície terrestre em bacias de rochas sedimentares.

A partir dele podemos produzir uma série de substâncias. Substâncias essas que, se passarem por um processo certo, podem dar origem a alguns tipos de plásticos. O chamamos de combustível fóssil justamente por vir do que sobrou de organismos mortos. Mas aqui que está o “X” da questão. Ele não é resultado da degradação dos restos mortais de dinossauros.

Na verdade, o petróleo foi formado principalmente por resíduos orgânicos de seres marinhos como algas, plantas, zooplânctons e fitoplânctons, que decantaram no decorrer de milhões de anos. Ou seja, no final do seu ciclo de viva os restos desses organismos se acumularam no fundo dos oceanos. Com o tempo, eles foram enterrados sob milhões de toneladas de mais sedimentos e camadas de restos de plantas.

Esses sedimentos foram submetidos à mudanças principalmente por conta das condições do ambiente como: alta pressão, temperatura elevada e baixo teor de oxigênio. Assim, a matéria orgânica começou a se transformar em uma substância chamada de querogênio. Depois, com mais calor, pressão e o passar do tempo, o querogênio passou por um processo chamado catagênese transformando-se em hidrocarbonetos, que são substâncias compostas pelos elementos hidrogênio e carbono.

Esse processo todo aconteceu há muito tempo. Segundo a University of Calgary, uma universidade canadense, de todas as reservas de petróleo do mundo estima-se que 10% foram formados na era Paleozóica (entre 541 e 252 milhões de anos atrás), 70% dos depósitos existentes hoje foram formados na era Mesozóica (entre 252 e 66 milhões de anos atrás) e os 20% restantes foram formados na era Cenozóica (há 65 milhões de anos).

O interessante é que historicamente os dinossauros viveram durante a era Mesozóica. Que provavelmente tinha um clima mais tropical, com boas condições de vida tanto para os dinossauros quanto para grandes quantidades de plâncton nos oceanos. Porém, a maioria das espécies de grandes dinossauros vivia nos continentes, não nos mares. A quantidade de matéria necessária para formar as bacias de petróleo é muito grande e teriam que se acumular em um mesmo lugar. Como poucas espécies aquáticas viviam nos oceanos é muito improvável que toda essa matéria seja de espécies de dinossauros e que ainda morriam todos no mesmo local.

Ou seja, o petróleo foi formado principalmente por organismos marinhos. Além disso, pelo menos 30% dele foi formado em períodos quando não haviam dinossauros vivos na Terra.

O plástico

Divisão percentual do barril de petróleo de acordo com as áreas de uso do material (fonte: Petrobras, 2019)

De onde vêm os plásticos é segundo ponto dessa explanação. Boa parte dos polímeros sintéticos são provenientes de substâncias vindas do petróleo. Entretanto um ponto que deve ser considerado, e que muitas pessoas não sabem, é que, de acordo com a própria ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), de todo o petróleo retirado apenas 4% é usado na produção dos plásticos. Isso mesmo, apenas 4%.

De fato, 96% do petróleo retirado ainda é destinado à fabricação de combustíveis como: o diesel, gasolina, óleos combustíveis, o GLP (o gás liquefeito de petróleo, comumente usado em residências), combustível pra aviação, entre outras coisas. Ou seja, uma pequena fração do petróleo é direciona para a fabricação dos plásticos. Enquanto a maior parcela ainda é queimada em motores.

O que acontece é que o petróleo passa por um processo de que o divide em diversas substâncias. É nesse processo que 4% dele se transforma em nafta. A partir desse componente se fabrica algumas substâncias e entre elas estão presentes alguns monômeros que dão origem a certos plásticos.

Anuário estatístico brasileiro do petróleo, gás natural e biocombustíveis (fonte: ANP, 2019)

Se o termo “monômero” não ficou claro, leia nosso post sobre O que são Polímeros em que eu explico com mais detalhes sobre esse assunto.

Além disso, nem todo plástico que existe vem do petróleo. Alguns dos plásticos fabricados hoje são provenientes de outras fontes, até mesmo de fontes renováveis, como plantas. O polietileno (PE), por exemplo, pode ser feito a partir de cana-de-açúcar, ou seja, nada de petróleo. O que mataria totalmente as possibilidades de existir uma mínima fração de um dinossauros no polímero.

Então, por mais que esse pensamento seja curioso e humorístico, os dinossauros de plástico são apenas dinossauros de plástico mesmo. Claro, não é totalmente impossível que exista partes desses incríveis animais nos plásticos (até porque não vivemos na mesma época para inspecionar tudo isso de perto) mas dentro do que conhecemos na ciência até hoje, é extremamente improvável.

Se vocês quiserem mais explicações assim como essa e entender a ciência por trás das coisas de plástico, basta ser inscrito no canal.

Quer referenciar esse conteúdo? Seguindo as normas da ABNT, o conteúdo desse site deve ser referenciado como: SOARES, E. A. F. Compósito ou composto? UP – Universo Plástico, São Bernardo do Campo, 17 out 2020. Polímeros. Disponível em: [inserir url do link]. Acesso em: [inserir a data da pesquisa].

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